O nosso mundo de Sofia

Ano passado comecei a ler um livro: Depois daquela viagem. Realmente uma lição de vida. Uma moça que aprendeu a viver com a AIDS. Não sei porque e em que circunstância eu parei de ler o livro, mas a questão é que eu parei de ler o livro e hoje resolvi dar continuidade na leitura. Curiosamente eu estou lendo um livro (esse é de cabeceira mesmo): Resistência - A história de uma mulher que desafiou Hitler. Eu até comentei aqui antes. E como se não bastasse um amigo me emprestou um outro livro: A mulher que quero ser. Um livro muito interessante, desses que acho que toda mulher deveria ler um dia, apesar de eu não ser nenhum pouco religiosa. Bem, ler três livros ao mesmo tempo não me assusta nem me confude. Gosto muito de ler. Mas me pergunte quantos livros eu já li desde a primeira página até a última? Eu respondo: apenas um. O mundo de Sofia foi o único livro pelo qual me vi completamente fascinada e isso me intimava a lê-lo todos os dias. Tudo bem, talvez eu estivesse perdidamente apaixonada pelo garoto que me emprestara o livro. Quando nos encontrávamos e as palavras nos fugiam à boca, nossos olhares velozmente se atraíam e se compreendiam... e essa compreensão nos levava a um único lugar... O mundo de Sofia. Por longas horas vivíamos lá, lá dentro daquele mundo. Quando voltávamos de lá tudo ao nosso redor era idílico e isso era mágico.

Quando terminei de ler o livro, o encanto se acabou, a paixão de maneira inesperada deixou de existir e eu tinha pressa de ganhar o mundo e assim quebrei as correntes que me prendiam àquele garoto. Garoto de olhos claros, pele elástica, sorriso fácil, voz comum e que ainda tinha uma namorada. Eu não me importava muito com isso porque eu pouco o conhecia, não sabia muito sobre sua vida fora do "nosso" mundo de Sofia. E na época eu tinha uma facilidade muito grande pra me apaixonar por vários garotos ao mesmo tempo e achava isso extremamante comum... porque não era diversão, eu realmente me apaixonava por cada um deles. Por essa razão eu não tinha o egoísmo de querê-lo só pra mim.

Quando devolvi o livro a ele, eu não só estava devolvendo um livro, eu estava me desvinculando de uma história que eu tinha escolhido viver com ele por um período. Eu não consegui chorar, não consegui ter raiva de mim, não consegui pedir desculpas, tampouco consegui mentir. E se mentisse ele saberia, afinal ele compreendia o meu olhar...assim como soube compreender o meu "adeus".

Eu tenho a sensação de que nossas histórias ganham mais vida quando permitimos certa nitescência frente a algo que acontece fora do comum cotidiano. Quando vou ao cinema por exemplo, saio dali com a impressão de ter uma vida totalmente diferente da que tenho de verdade. Saio com vontade de fazer coisas, saio pensando em coisas, fico vendo coisas... O mesmo acontece quando leio um livro. Pareço viver cada palavra escrita ali, me transporto pra dentro dele. Eu só preciso descobrir o mistério de nunca mais ter conseguido ler um livro todo. Talvez minha realidade não esteja permitindo que eu contracene com personagens da vida real...e isso esteja me impedindo de chegar aos finais dos tantos livros lidos por mim.

*Ler um livro todo, pra mim é:

1. Ler cada página como se fosse a única.
2. Ler a mesma página, se preciso, 3,4 vezes até que se entenda tudo que há nela.
3. Procurar os significados de todas as palavras desconhecidas que há nele.
4. Chegar ao seu final sem esquecer do seu começo.

Ultimamente eu só leio o que me interessa, o que me atrai...