26 junho 2009

Tarde de um domingo (parte 2)

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Aquela tarde tão ventilada e tranquila me fez tão bem que eu sequer consigo explicar a grandeza de tudo aquilo. Era como se minha alma vazia fosse preenchida de nada mais nada menos que vento e silêncio. Assim me fazendo esquecer completamente da minha amarga solidão.


Estar sozinha era sim, algo que eu queria muito. Mas minha mente foi flagrada pensando e querendo a companhia de alguém. Peguei o celular por umas três vezes seguidas. Indecisa eu não sabia se ligava ou mandava mensagem. Fiquei quietinha no meu canto, mas isso durou muito pouco tempo, eu tinha que fazer algo... tinha que expressar a saudade de alguma forma. Ou pelo menos tentar...


Não tinha nada aberto ali, os restaurantes todos estavam fechados e eu estava com uma sede daquelas!!! O lugar mais próximo me faria andar demais pra quem estava querendo apenas relaxar e ficar paradinha num canto. Resolvi esquecer a sede por um tempo na certeza de que
não morreria desidratada.


Uma senhora acompanhada de duas crianças procurava um lugar à sombra. Se aproximou de mim, me cumprimentou, pediu licença para sentar-se e eu então sorri para ela como quem dissesse: "Fique à vontade!" Ela estava cansada, respiração ofegante, tinha andado demais até chegar ali.


As crianças tiraram seus sapatos, pediram autorização para brincarem e logo correram em direção ao parquinho. Ela então olhou para mim e disse:


- Eu já não tenho pique pra acompanhar essa meninada. Eles sempre me chamam, mas me dá uma preguiça... Hoje eu resolvi encarar esse sol pra fazer um pouco a vontade deles.





- Hum. Nessa idade eles estão com toda energia... Realmente não é fácil acompanhar o ritmo deles.


- O menino é meu neto, peguei pra criar. A menina é minha filha. Eles tem quase a mesma idade, se dão muito bem, mas são muito danados. Tem horas que acho que vou ficar doida!


- Eu já pensei em trazer os meus para o parque, mas honestamente fico com um pé atrás. É muita responsabilidade! O mais velho é muito "aéreo", o mais novo elétrico demais. Se for pra trazê-los e eu ficar como uma louca achando que os perdi a toda hora, prefiro vir sozinha pra relaxar...sem preocupação alguma.


- Você tem filhos? Menina, nem parece oh! Pois é. Mas eles vivem trancados em casa, fico com dó deles. Hoje eu tive que espantar a preguiça pra poder vir. A menina vive no interior, é virada, faz tudo, às vezes parece uma senhora de tão esperta que é. Mas o menino é muito pacato, tímido e quando se solta fica maluquinho!


- Hunrum. Tive os meus cedo demais. Mas foi até bom! Quem sabe eu vá na balada com o meu mais velho! Ele também é muito tímido, muito na dele... o oposto do mais novo.


- Hahaha. Verdade! De repente até com o mais novo também... Acho que o mais novo que vai curtir balada, rs!


- É, quem sabe! Rsrs.


- Você está esperando alguém?


- Não, vim para relaxar um pouco, ficar sozinha, sair um pouco de casa...


- Ah, muito bom! Se eu pudesse fugiria vez ou outra também. Algumas vezes vou para Bolívia, mas já faz tempo que não viajo para lá. Você já foi à Bolívia?


- Não, nunca fui!


- Lá é muito legal. Nossa!!! Sinto até saudade! O meu ex-marido mora lá agora.


- Han...


- Soube depois de um tempo que ele começou a namorar uma Boliviana numa dessas viagens que fazíamos. Sabe, eu ainda gosto dele, mas quando ele vem por aqui a gente sempre acaba brigando. A gente não se entende mais.


- Poxa, é tão chato quando fica assim. Tem toda uma história de amor, afeto, respeito, confidências ao longo de tanto tempo e quando se separam não resta nem a amizade!!!?


- Pois é. Ele me largou pra ficar com essa outra. Depois que nos separamos, minha vida mudou completamente. Parece que não tenho mais motivo pra continuar andando nos mesmos lugares que andava quando tinha a companhia dele. Eu acho que ele briga sempre comigo pra que eu não o procure e nem pense mais em voltar. Pra me manter distante carregando essa raiva dentro de mim. Ele não sabe o quanto me faz mal. E o pior de tudo é que mesmo assim eu não consigo desejar o mal para ele.


- Mas nós nunca desejamos o mal a quem nós gostamos.


- É verdade. Queria muito que esse sentimento nem existisse sabe. Já são anos...Mas todas as vezes que eu vejo aquele homem, meu coração acelera e eu relembro de tudo que vivemos.


- Como arrancar um amor do coração né!?
- É, eu queria saber... Você é casada?
- Prefiro dizer que namoro!
- Faz muito bem. O namoro é o alimento da relação. Se deixamos de namorar, a relação aos poucos vai morrendo.
- Pois é. Muita gente não entende. Mas eu gosto dos tratamentos que rejuvenescem a relação... como chamar de "gatinho" por exemplo! Rsrsrs. E eu sempre digo que tenho namorado, nunca marido!
- Pro homem é mais difícil entender. Eles adoram abrir a boca pra falar "minha mulher". Querem deixar claro que as mulheres são deles...
- Exatamente. Mal sabem eles, que não precisam disso pra marcar território, basta estarem perto, darem uns beijinhos...
- O meu era muito antigo sabe. Pensava como meu avô... mulher tem que estar na cozinha preparando um bom almoço, limpando a casa, deixando tudo muito limpinho e abrindo as pernas ao deitar.
- kkkkkkkk Uma vida de pura obrigação. Quanto machismo!
- Por obrigação mesmo! A única coisa boa nessa separação é que agora estou livre daquela escravidão.
- Imagino que fazer sexo por obrigação deve ser horrível.
- Na maioria das vezes sim. Nem havia estímulo sequer.
- Eu hein!
- E depois não querem que as mulheres finjam orgasmos. Muitas fingem porque foi a melhor maneira que encontraram de demonstrar que elas "podem" sim e sentem prazer na hora do sexo. Tudo isso pra não ficarem por baixo...e os bonitões não levarem vantagem sempre.
- Quando na verdade...eles acabam levando mesmo. Ainda bem que eu nunca precisei disso. Já pensou!? Que horror!
- Sorte a sua que nunca precisou. Pois já eu tive que fingir e por várias vezes. Pra não ficar com cara de paisagem depois....se é que me entende!
- Haha...Posso imaginar!
- kkkkk Pois é... Isso é que é. Você passa o dia todo como uma escrava, limpando, lavando, passando, cozinhando e no final do dia, tem que fingir que sente um mínimo de prazer pra satisfazer o marido. Sendo que deveria ser bem o contrário. O marido deveria querer proporcionar prazer pelo menos como forma de agradecimento né... kkkkkkkk
(continua...)



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19 junho 2009

Tarde de um domingo (parte 1)

| | 3 comentários

...Tudo que eu queria era um lugar calmo, onde eu pudesse relaxar e esquecer de todas as causas das minhas lágrimas naquela manhã... Então, saímos "eu e eu" a procura desse lugar perfeito.
Eu não tinha tomado café da manhã nem almoçado aquele dia. A tristeza me faz perder completamente o apetite. Com um vazio na alma e um buraco no estômago eu só queria estar só e bem longe do meu "castelo de farsas". Pensei no "meu lugar" acolhedor de almas perdidas, abandonas e solitárias. Um parque que sempre vou quando preciso relaxar um pouco. Mas ainda não tinha certeza se lá seria um bom lugar para esse meu dia tão amargo.
Jamais poderia imaginar que o mesmo lugar de antes, seria o lugar mais adequado para mim aquele dia. Cheguei lá e encontrei exatamente tudo que eu desejava.
Lá não havia mais ninguém além de quatro amigos agrupados sentados na grama conversando, dois guardas andando de um lado para o outro fazendo a segurança do local e um casal estudando sentado em um banco.


Encontrei ali uma paz tão apurada como nunca havia encontrado antes! Não ali naquele lugar. Olhei ao meu redor e tudo me pareceu mais imenso do que das outras vezes quando lá estive. Caminhei um pouco, observei tudo e sentei no gramado, bem embaixo de uma árvore gigantesca. Sentindo a leve brisa batendo em meu rosto. Vendo as folhas secas caindo ao chão com o balançar das árvores que o vento fazia. Canções vinham em minha mente sem aviso prévio e lá estava eu cantarolando sozinha marcando compasso com minhas mãos na minha mochila de estimação (essa sempre está comigo, ou quase sempre). Aliás, se essa mochila falasse teria muita história pra contar... (risos)


Fiquei ali por um bom tempo me deliciando de uma tarde maravilhosa. Observei as coisas mais minúsculas, os detalhes mais minuciosos, os diminutos mais despercebidos causados pela modernidade, onde os homens correm contra o tempo e nem sequer olham por onde pisam, porque olhar leva tempo demais. Percebi que as formigas pequenas trabalham mais que as grandes ( ou aquele dia deveria ser feriado "formigundo" para as donzelas fisicamente mais desenvolvidas ). Perdi a conta de quantas vezes senti sementinhas caírem sobre minha cabeça e que por sorte eram bem leves. Um inseto pousou no meu ombro e (confesso) quase morro de tanto medo, até olhar bem pro rostinho dele e ver suas anteninhas balançarem de um lado para o outro como se estivesse dançando e nada mais. Meu medo se foi e logo veio a saudade. Ele estava ali só de passagem e eu tinha que entender isso. Mas fiquei tão curiosa! Não sei que inseto era aquele, só sei que era muito bonito embora inicialmente assustador. Algumas pessoas são assim, o que explica rapidamente o velho ditado " Nem tudo que parece é".
Abri a mochila, tirei meu livro e então comecei a ler. Resultado, finalmente terminei de ler os três livros que havia comentado meses atrás. Acho que eu só precisava de um lugar tranquilo para concluir minha leitura.
Resolvi dar mais uma volta no parque e então fui para o outro lado onde geralmente fico sempre que vou. Uma moça passou por mim, me olhou como quem queria perguntar algo. Fiquei olhando para ela, com intuito de encorajá-la, mas quando chegou bem perto, ela desviou o olhar, olhou para o chão e continuou andando. Pensei - Essa deve ser mais tímida que eu!
Procurei um banco que ficasse na sombra de uma das árvores daquele lugar, mas o único que tinha estava ocupado com um casal de adolescentes. Aos poucos as pessoas estavam indo ao parque. Continuei andando, sentindo aquele vento contra meu corpo o qual me fazia sorrir de graça. Avistei a moça tímida sentada lá longe com um caderno em seu colo. Vez por outra ela olhava para trás. O casal apaixonado levantou-se do banco e saiu de mãos dadas. Finalmente sentei naquele banco e com um leve sorriso no rosto, tirei minha melissinha do pé, me estiquei no banco e fechei os olhos. Me desliguei de tudo, me desliguei do mundo lá fora, da poluição, da violência, da maldade, da injustiça... Desenhei um mundo pra mim naquele momento. Era um mundo colorido onde os sonhos pareciam mais reais que a própria realidade, porque a realidade às vezes é dura demais. Demorei com aquele desenho na minha cabeça porque aquilo tava me fazendo um bem danado.
- Oi, tá dormindo?- era a moça tímida que havia me evitado sabe-se lá porque.
Abri os olhos, sentei numa posição mais comportada, posso assim dizer, olhei para a moça e respondi:
- Oi.
- Desculpa, mas seu nome é Laura?
- Rsrs, não.
- Nossa, você se parece muito com uma amiga minha do sul. Fiquei impressionada! Eu tinha que perguntar, mas fiquei sem jeito de perguntar assim...
- Hunrum, percebi.
- Então tá. Desculpa mais uma vez viu!
- Ah, sem problema! Ela é bonita pelo menos?
- Quem? A Laura? Rsrsrs. É sim!
- Menos mal. Ser confundida com gente feia não é nada legal.
- Hahaha. É verdade!
- Então tá, xauzinho!
- Xau!
Por incrível que pareça eu também achei aquela moça parecida com uma colega dos meus tempos de colégio. Mas perguntar seria no mínimo "ctrl c ctrl v" demais. E para uma designer, copiar (seja lá o que for) não cai nada bem. Bom, ela tirou a dúvida dela e eu (boba que sou) fiquei aqui sem respostas. Mas o que importa? Eu nem me dava bem com a tal colega do colégio mesmo.
(continua...)


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