Tarde de domingo (parte 3)

Avistei uma pessoa sentada bem distante, na outra extremidade do parque. Tinha um objeto na mão...que só mais tarde pude ver que era um aparelho celular. Parecia procurar alguém. Achei estranho porque ele não parava de olhar para mim. Ao menos, foi o que pareceu. Pois pela distância não dava pra ter uma visão tão exata .

Levantou-se e foi andando em minha direção. Eu pensei: - Será?

- Será o quê?

- O quê?

- Você disse: " Será?" . Estou perguntando pra você: - Será o quê?

- Ah, nada não. Acho que pensei alto... foi isso!

A senhora olhou para mim e sorriu. Em seguida disse:

- Algumas coisas nos fazem pensar alto. Quando estamos apaixonados por exemplo, quando estamos curiosos, quando temos dúvidas, até quando estamos preocupados...

- É...você tem razão. Mas é bobagem...talvez eu esteja grilada com alguma coisa...

- Hunrum. Mas relaxa, se for algum problema sérá resolvido logo, logo! Você vai ver! Todos temos problemas não é? A vida é feita de problemas...

-... Como se fosse um teste. A vida parece nos testar o tempo todo!

- Exatamente.

Aquele homem foi ficando cada vez mais próximo. Eu desviei o olhar quando ele olhou para mim, é claro. Mas continuei a olhá-lo discretamente. Ele parecia procurar alguém. Com o celular na mão, tirou foto de alguém que estava distante (Pelo menos pareceu). Ou terá sido para disfarçar alguma coisa? Depois ele me olhou rapidamente e sem expressão alguma, naturalmente foi andando em direção ao mesmo lugar de antes. Não sei porque mas eu fiquei curiosa ao ver aquele homem. Achei meio misterioso, sei lá.

Principalmente quando o vi abaixado e consequentemente atrás da mesa daquele restaurante. Parecia se esconder. Mas se esconder de quem? Ou de quê? Será que era um detetive? Será que estava espionando alguém? Estava vestido de preto e sempre com o celular na mão, com o braço um pouco esticado e tirando fotos de sabe-se lá o quê. Mas será?

- Será o quê?

- Ah, pensei alto de novo?


- Hahaha! Pensou sim! É paixão?

- Não. curiosidade mesmo! ( Falei com um ar de seriedade pra ela desencanar desse negócio de paixão...E pelo visto ela estava bem curiosa também)

...

- Desce já daí menino!!!!!!


Era o filho dela no galho de uma das árvores do parque. Não demorou muito para o guarda chamá-lo atenção.

- Não tem acesso para ambulância! Desça da árvore! Porque se acontecer alguma coisa, será difícil para socorrê-lo num caso de emergência!

- Já disse menino! Desce daí já! Nunca mais trago vocês.Que coisa!

- Já estou indo, poxa!

- Desce já daí! Mas que coisa!...O guarda tem que vir aqui pra chamar atenção! Que vergonha! Onde já se viu!

É. Ela estava furiosa. E com razão.

A tarde estava deixando de ser tarde pra virar noite. Coloquei minha mochila nas costas, me despedi da simpática senhora e então segui meu caminho rumo ao meu "castelo". Mas eu tinha que olhar pra tirar minhas dúvidas... Afinal, o que aquele homem fazia sentado na mesa de um restaurante sempre se abaixando como se fosse pegar algo e com aquele celular na mão? Achei muito curioso! Vai ver era somente alguém que gostava de tirar fotos para realização pessoal. Realização pessoal? Bem estranho! Ou EU SOU uma estranha que vivo sempre achando que as coisas tem mais pra revelar do que parecem.

Aff... Ou eu matava a curiosidade ou ela me matava! Certamente eu estava louca pra perguntar alguma coisa como: ' Desculpe, mas você é um detetive?' (ele responderia: ' Não é da sua conta')ou ' Tá fazendo algum trabalho? Por que tantas fotos escondidas?' ( ele responderia: ' Vai te catar menina')... Hahahaha! Mas isso não existe, são apenas coisas que passam na minha cabecinha de vento.

Bem, nem sei porque, mas eu desacelerei meus passos. Olhei para trás e lá estava o homem misterioso olhando... De repente ele esticou o braço e tirou uma foto, duas, três...sei lá quantas. Estranho demais! Eu diria até bem sinistro! Mas como o sinistro me atrai eu simplesmente sorri e fui embora.